“Esta ideia de que um livro e as palavras que estão dentro dele, o que lemos e o que contamos sejam capazes de nos transformar, é algo que sempre me apaixonou. Interessa-me ir à procura de situações parecidas que nos dias de hoje – na minha existência – observo e sinto que, de alguma maneira, têm a mesma força e capacidade de falar connosco.” (João Garcia Miguel)

Foi o que realmente aconteceu, diz-se. Em 1840, na ressaca da Guerra Civil Portuguesa, um mancebo chega a uma aldeia duriense e traz consigo um livro cheio de histórias. Seguindo os ensinamentos desse livro, os populares de Granja do Tedo fundaram um movimento social e religioso que duraria sete anos, liderado pela curandeira Maria das Neves, autodenominada “Terceira Eva, por Jesus Coroada”.

A partir de uma história verídica, Amândio Anastácio e João Garcia Miguel exploram a origem desse encantamento e dessa habilidade humana de falar com os deuses dentro de nós, de fazer deles narradores e de os deixar conduzir as nossas vidas nas situações mais adversas e inusitadas. Esta peça fala de coragem, do partir em busca de vozes maiores que nós e da beleza dessa transformação. Fala também sobre o poder de um livro para transformar toda uma comunidade. Numa época de movimentos sociais radicais como os que se viviam por todo o norte da Europa, esta é uma história circunscrita, que nos dá liberdade a efabulações várias e a explorar os ecos que certos acontecimentos do passado ainda hoje têm no nosso dia a dia.